terça-feira, 12 de maio de 2015

| João Manuel Ribeiro |

 28  de abril de 2015



A árvore do meio do jardim


Nunca me sentei à sombra da árvore do meio do jardim.
Incomoda-me a geografia diurna do centro. Prefiro 
a arritmia limítrofe das fronteiras, a fuga ociosa
para dentro dos desertos e a noite inclinada
sobre os frutos verdes. Prefiro a árvore que me ignora.
Como se eu fosse um pássaro aturdido pelo voo rasante
da loucura em flor. Expulso, nunca mais voltei ao jardim,
vergado pelos passos das heras em redor do corpo.
Eu sou a terra árida em que cresce a sombra das raízes.