terça-feira, 3 de março de 2015

| Maisa Antunes |

|17 de fevereiro de 2015 |



"Estás a ver?"


Era um por do sol na saída de Lisboa. O sol derramava um amarelo inesquecível nos prédios habitados. Ao longe os moinhos de ventos gritavam as ausências dos amores distantes. Fazia frio e sol, a paisagem era avistada da janela do autocarro. Ele era um agricultor da Covilhã, criador de ovelhas e coletor de mel. Mostrou-lhe a paisagem e disse: “Estás a ver? É giro não é?” Ela concordou com a cabeça, e ficou em silêncio – aquelas frases traziam lembranças, outras paisagens – prendeu-se nelas por alguns instantes, até o momento em que ele mais uma vez exercia as tentativas de arrancá-la das lembranças; perguntou-lhe se gostava de mel e de queijo, disse que sim, e agora sorriu... Com algum tempo ela já se sentia protegida com a presença daquele homem simples. Ele perguntou-lhe muitas coisas sobre a vida, e depois sentenciou: “Ainda vais ser muito feliz”. Havia uma promessa de felicidade nos olhos dela que ele, encurtando o caminho, conseguia ler. Na estrada, o tempo escureceu, e esfriou ainda mais; logo se encostaram, um pouco, um no outro, para aquecer as ausências que cada alma trazia.