terça-feira, 26 de maio de 2015

| José António Franco |

12  de maio de 2015



Para a Emiliana Carvalho
(no 2º aniversário do ESCRÍTICA)

Li, compreendi, amei.
Paul Ricoeur

sinuosa e fria é a vereda em que a penumbra ocorre
como escorrência única da primavera ausente
um pânico submerso abandona o flagelo da palavra ignorada
e eis-me na página certa onde o sabor mineral da descoberta
se acentua como animais uivando às folhas secas
há uma imagem em redor de todas as dúvidas um tronco
de árvore onde se regista a história do homem perfeita mas
instável na sua clareza de pungência irremediável

real só a superfície tosca da lógica a botânica sideral da ignorância

no convés do desassossego vestígios do desamor
destroços do homem que transparece como pedra de estrela
imóvel no seu território de abóbadas convulsivas
agreste o branco fatal que desaba em todas as
fábulas
a lucidez inaugura a respiração do silêncio o minucioso
paladar do prazer como um ofício de perfumar paisagens
em cada passeio a visceral simplicidade da música
que incandesce os afectos as mãos como girassóis
que não desistem do delírio do mar
todas as rosas regressarão ao deslumbramento inicial
geometricamente profundas indestrutíveis como vozes da memória

e eu a desejar-te como se não existisses
não há evidências mas só o vento supera a celebração da verdade