terça-feira, 11 de novembro de 2014

| José António Franco |

28 de outubro de 2014 




Procura na retina frenética dos dias vulgares

É aí que eu estou

Na sofreguidão da brisa que amacia a pedra

Na paciência que transpira segredos e incandesce alegrias

Aí meu amigo

Entre os meninos que jogam com a palavra por lavrar

No rosto sereno escancarando almas com cinzel de sangue

No desassossego que organiza o amanhecer

Procura no silêncio da urze sim nesse silêncio de que cada poema irrompe

Nos retratos ilegíveis entre os escombros da memória

No caleidoscópio de vozes sem corpos nem rumos

Nas ambiguidades que queimam as mãos como rochas insaciáveis

Procura se quiseres nos mistérios da casa adormecida

No apelo solar contra o tédio e contra o pânico do gesto invisível

Procura em todos os caminhos e tu sabes que não há caminho que se rasgue sem dor

No fascínio das raízes luminosas na subversão do vento

Nos versos cravados na fertilidade deslumbrante da pedra

Procura-me

É aí que eu estou sem saber onde estar

Escavando o olhar numa encruzilhada de coisa nenhuma