terça-feira, 11 de novembro de 2014

| Fernando Coelho |

28  de outubro de 2014







Seis horas da tarde. Quero escrever poemas sobre a minha chegada em ti. Poemas que conversem entre si sobre alimentos, sobre as substâncias que se parecem com a minha caminhada por estradas de ferro renegadas no passado, e que cortaram matagais e despenhadeiros escuros. Quero escrever poemas que se pareçam com as estrelas que adejam perto dos teus olhos, embornais de desejo. Quero escrever poemas com o teu sabor de dias reconstruídos, dos caminhos sangrentos que subiram pelo meu corpo como heranças de raízes para me visitar. Raízes de árvores grisalhas. 
O teu amor que agora chega, dá o tom desta vida que arrulha na noite, e a noite tem, em si, olhos de corujas de prata. A tua voz, ao longe, desperta na manhã cruel os milharais, e, nos fornos, cria vida dentro do pão que me queima com a brasa da paixão avisada com incógnita palavra. Quero escrever poemas sobre tua chegada e não vou conseguir igual, imitar teu cheiro em poemas, a nuvem de arrepios que trazes em tuas mãos feridas como cordas de um violino de luz. E só.