terça-feira, 19 de agosto de 2014

| Carol Bittencourt |

05 de agosto de 2014







São quase 7 horas da manhã, acabei de acordar e estou triste. Levantei, fiz um pouco de café, li uns versos de Clarice e mesmo depois de ter alimentado meu corpo e minha alma, continuei triste. Fui para o trabalho me esforçando para parecer alegre e gentil, mas, a cada “bom dia”, era preciso disfarçar uma ou outra lágrima que teimava em ficar espiando tudo e todos à minha volta.

Meio-dia. Minha tristeza e eu nos sentamos à mesa, mas não estávamos com fome. Bebemos apenas um copo de suco e ficamos ali, em silêncio. O sol está quase se pondo, então decidi sair para caminhar.  Andei por alguns quarteirões, encostei-me a uma árvore, olhei o céu, fui até a padaria, senti o cheiro do pão que acabara de sair, mas de nada adiantou... Nem sequer uma fagulha de alegria. Resolvi voltar.

Agora são quase 21 horas, já jantei e estou no sofá. A tristeza ainda está aqui, e ao que parece vai ficar para dormir. Meia noite. Cansada e sentindo meu coração cada vez menor, abro a janela do meu quarto, sento na cama, recosto a cabeça na parede e antes de fechar os olhos, escuto o barulho de uma chuva discreta molhando a madrugada...

Nesse momento, sinto que meus olhos também estão molhados, já não consigo parar de chorar. Levanto, caminho em direção à janela e ao tocar na chuva consigo, enfim, me despedir de uma parte de mim, que disfarçada de tristeza, havia passado todo o dia, agarrada a minha mão, pedindo pra ficar. Toda despedida é sempre triste...

Mais uma vez são quase 7 horas da manhã, acabei de acordar e estou feliz. Levanto, olho-me ao espelho e percebo, perto do ombro esquerdo, uma nova e pequena cicatriz. Faço mais um pouco de café, dou bom dia a Galeano e escuto-o com ternura me responder: “A vida só lateja em quem tem cicatrizes. Tenha um bom dia”.