terça-feira, 5 de agosto de 2014

| Carol Bittencourt |

22 de julho de 2014





Quando chegamos ao parque Josefa Coelho, onde os para-atletas treinam todos os dias superando as dificuldades impostas por sua condição física, uma cena logo prendeu minha atenção. Josoaldo, um jovem de 26 anos que perdeu gradativamente a visão e Laércio, seu guia, pareciam correr um com os pés do outro, em um ritmo tão compassado que mesmo quando já não era possível avistá-los, eu ainda conseguia sentir o barulho das suas pisadas tocando ao mesmo tempo o mesmo chão.

Mais tarde quando Emiliana entrevistou Laércio e perguntou como era correr ao lado de Josoaldo, com os dedos amarrados por um cordão, ele apenas sorrio e disse “eu sou o olho dele, ele dá o ritmo e eu sou o guia pra desviar dos obstáculos”. Naquele momento eu também comecei a sorrir e a pensar como seria a vida se tivéssemos um guia o tempo todo ao nosso lado, acompanhando os ritmos do nosso corpo, desviando daquelas pedras que teimam em ficar no meio do caminho nos fazendo tropeçar e quase sempre cair... Mas logo essa ideia me pareceu tola, pois, se assim fosse eu não teria minhas cicatrizes, eu não seria eu, e a vida segura demais...

Além disso, Josoaldo só precisa de um guia em algumas competições. No dia a dia ele vai aprendendo a ver e recriar seu mundo com cada parte do seu corpo, que são os verdadeiros olhos do seu corpo e da sua alma.

Lembrei de novo de Drummond e ouvindo com os olhos os passos solitários de Josoaldo consigo compreender melhor as pedras que ficam no meio do caminho, tudo depende do que a gente faz com elas...