terça-feira, 8 de julho de 2014

| José António Franco |

24 de junho de 2014 





quantas coisas me dizes que não entendo
quantas palavras viciadas pelo absurdo
pela vocação inadiável da verdade
quantas vezes sigo a memória dos teus gestos
sempre aquela sensação de enganar alguém
como se as palavras não se reconhecessem
nos seus próprios silêncios
sempre uma cortina de horizontes extenuados
marés de olhos em desmaios incertos
quantas vezes te minto com desconsoladas verdades
caminhos
erosão de um espaço inventado
quantas vezes

e no entanto
a nossa cumplicidade perversa tem o ritmo da ternura
a liberdade dos vulcões adormecidos
o esplendor dos símbolos redescobertos
na vertigem dos corpos
na transparência das mãos
num secreto início
permanente


Pedra Fecunda, 1987