terça-feira, 18 de março de 2014

| João Manuel Ribeiro |

18 de Março de 2014





[4]
O poeta dispõe meticulosamente os astros
no útero no poema, convencido de que o sentido
advirá dos anéis circulares das palavras.
Ignora a materialidade inconsútil do jogo
que se enterra nas veias frágeis do leitor.
Ignora que a palavra é o derradeiro começo
da incompreensão e da mudez. Assim.


[5]
O poeta senta a tarde nos joelhos.
Cumpre a promessa de lhe gerar filhos.
Junta-os ao redor da mesa, abençoa-os
e diz-lhes: uma palavra e serei salvo.
A demência é a cerca do poema..


[6]
O poeta sabe que o poema para nada serve.
Gravita, com lucidez, em redor da razão de crer
que há secretos sentidos no indispensável
supérfluo que o texto produz. Carregado
de céticas certezas. Magnânimo, o poema
faz o seu caminho à margem da crítica.