terça-feira, 18 de março de 2014

| Edmar Conceição |

04 de Março de 2014





Foi na fila de uma casa lotérica que um senhor, acreditando na sorte de seu cartão preenchido, afirmou que não importa de onde viemos, mas, sim, para onde vamos. Percebi com exatidão o efeito dessa frase quando fui ao Parque Josefa Coelho e conheci a Associação Petrolinense de Atletismo (APA), técnicos e atletas que, mesmo no atrito do asfalto, colhem o vislumbre de um horizonte de sonhos.

Arrisco-me dizer que foi a crença no caminho que fez o atleta José Moisés, aos trinta e nove anos, correr pela primeira vez em Riacho das Almas, com sua camisa do vasco, um par de “kichutes” e toda esperança de quem se atira na superação de si mesmo.

A condição humilde dos atletas ajuda na sede de vencer cada quilômetro. Conheço bem a infância de um deles. Certa vez, quando era menino, aproveitou-se do sono da madrugada e foi furtar um armazém. Ficou tão encantado com aquele paraíso de bolachas recheadas e refrigerantes que comeu em demasia e dormiu lá mesmo, abraçado por guloseimas coloridas, embora depois fosse facilmente apanhado pelo dono do supermercado. Hoje, ele viaja mais de cem quilômetros para treinar com a APA e dorme cercado de troféus e medalhas.

“Você quer saber de qual começo?”. Foi assim que o Laércio começou seu longo testemunho de vida, contando, com pesar, quando, a partir dos doze anos, era guia de bandidos, dirigindo carro ou pilotando motos. Hoje, ele é guia do atleta Josoaldo, que por ser deficiente visual, precisa dos olhos de Laércio. Por sua vez, Josoaldo sabe escutar melhor o desejo e o ritmo de cada passo vitorioso. Ambos sabem que o mais importante é seguir para frente e que o caminho fala por eles.

Engraçado, talvez por se sentir bem entre atletas tão alegres, com olhares generosos, reluzindo perseverança, encontro-me agora convencido de que ofício de minha escrita é também uma corrida, que é preciso a teimosia lírica e inquieta desses conquistadores para correr com as palavras, seja o caminho de concreto ou de papel. Muito obrigado, APA, pela beleza do seu horizonte.