terça-feira, 26 de maio de 2015

| Fernando Coelho |

12 de maio de 2015





Deus deu duro na semana da Criação. Claro, sem calos nas mãos (que o maioral não tem mãos assim), mas guardava calos de esperança, pra que tudo acontecesse a seu gosto. Um detalhe o incomodava. Suava muito, Deus. Ele mesmo colocou o sol a pino no universo novo e explosivo. Cada gota do suor do Todo Poderoso inundava lagoas, lagos, fontes, rios e arrebentava no mar com estrondo. Era necessário que se enxugasse o suor de Sua testa infinita. A pedido Dele, Maria separou nuvens frescas. Delas, fez lenços brancos e macios. Ao enxugar o suor do Senhor de tudo, ele, sorrindo, aproveitou e criou logo a chuva, antes que se esquecesse. E permitiu, em agradecimento, que Maria amamentasse pintassilgos no coração, para que nunca mais o amor de Maria dormisse sem ouvir música de passarinhos. 

Eu te amo entre o teu copo e o meu. Eu te amo na defesa das crianças assassinadas no mundo. Eu te amo à toa. Me defendo de ti, todo o tempo, porque o amor me amedronta. Eu te amo sem batom, sem blanche e rímel, com a tua cara acendendo a lua. Eu te amo morto de cansaço, um estilhaço de homem que perdeu as roupas, a camisa, os passos, os olhos e os ossos. Eu te amo na roça, como se de lá pertencesses e não do mundo, de Paris e Xangai, Chile e Escandinávia, Oiapoque ao Chuí. Eu te amo desta janela aberta para a tristeza instalada nas guerras desprezadas por mim. Eu te amo porque me fazes chegar à vida, como às estrelas, como ao fundo do poço dos sentimentos mais profundos e irreais. Te amo nu, corpo desmiolado querendo o que não pode, o que não tem, o que te trai, o que me escurece e avermelha. Eu te amo sem nada, nada, nada...