terça-feira, 17 de março de 2015

| Carol Bittencourt |

| 17 de fevereiro de 2014 | 




Sozinha no mundo



Quando eu era pequena, devia ter uns oito ou nove anos, encontrei, entre os livros da minha mãe, um romance para crianças. O livro chama-se “Sozinha no Mundo” e não me recordo o nome do autor. Segurei-o com força, como se de alguma forma o livro é que tivesse me encontrado e, juntos, o livro e eu, fomos para o quarto, deitamos na cama e começamos a ler um ao outro.

Não lembro muita coisa sobre a trama da história, acho que era sobre uma menina que havia se perdido dos pais e ficava muito tempo sozinha até reencontrá-los. O que sei, e isso recordo com precisão, é que foi o título do livro, que tocou de imediato meu coração. Eu sempre senti que minha mãe partiria cedo desse mundo e como eu, na época, não conhecia meu pai, esse tipo de solidão, esse medo de ficar sozinha, era o monstro que morava em meu armário...

Às vezes, antes de dormir, fico pensando nessa menina que fui e que ainda mora em mim. Então, eu volto no tempo, abraço essa menina e tento lhe dizer, como posso, que tudo ficará bem. Acariciando seus cabelos, conto que ela vai sofrer um pouco, aliás, que ela vai sofrer (é melhor não falar “sofrer muito”) e mostro algumas das cicatrizes que ela vai ganhar ao longo da vida. Com um leve sorriso, eu confesso que, mesmo quando for adulta, algumas noites ela vai olhar desconfiada para o armário do quarto, mas, quando isso acontecer ela lembrará de tudo que a vida lhe deu de presente: irmãos, amigos, amores, um filho e tantos outros motivos que lhe farão entender como vale a pena viver. E saberá que não está só...

Antes de ir embora, como se fosse um ritual, coloco minha cabeça em seu colo e choro um pouco... Depois, levanto devagar, beijo seu rosto e com um olhar terno, me despeço:

“Não tenha medo, tudo dará certo... Até breve e durma bem”.