terça-feira, 6 de janeiro de 2015

| Marcos Cesário |








Encontrei na página do poeta Wilson Gorj a indicação de uma entrevista do editor-poeta Eduardo Lacerda, onde ele esclarece um pouco mais sobre o comércio, nada poético, da poesia e dos livros pelas grandes editoras e livrarias. Procurei e achei outra entrevista onde Lacerda fala do amor e das manchas de amor no livro... Eduardo, como você, sinto bem isto...

Lacerda, sobre a afirmação de Leminski: “A poesia é o inutensílio. A única razão de ser da poesia é que ela faz parte daquelas coisas inúteis da vida que não precisam de justificativa, porque elas são a própria razão de ser da vida. Querer que a poesia tenha um porquê, querer que a poesia esteja a serviço de alguma coisa é a mesma coisa que querer que o orgasmo tenha um porquê, que a amizade e o afeto tenham um porquê. Poesia faz parte daquelas coisas que não precisam de um porquê”. Acho que ele tentou dizer o que você tentou dizer: “Poesia serve para transformar a minha percepção. Para mim, ela serve para transformar a realidade”. E tanto você quanto Leminski concordam com Oscar Wilde: Toda arte é completamente inútil. Ou seja, ela não é servil.

Eduardo, outra pequena observação: Quando Ferreira Gullar disse que “a arte existe porque a vida não basta”, acho que ele quis dizer o que você tentou dizer... “que a vida só existe porque a própria vida não basta”. Por isso, a meu ver e ouvir, nem você, nem Leminski, nem Gullar discordam.

Lembrei-me do poeta Walt Whitman: “Pelas palavras do meu livro nada. Pelo seu sentido tudo”.

Nesta mesma entrevista Lacerda alerta: “A necessidade de publicação se tornou maior que a necessidade de leitura e de diálogo com o outro. Todos só querem falar. E eu acho que é o momento de pararmos para também ouvir o outro...”.

Eduardo Lacerda deve escutar bem. Ele está certo. Temos que tentar encostar um ouvido no outro ouvido. Ouvir o ouvido do outro... Talvez, com um pouco de paciência, humildade, contemplação e sorte nos ouçamos mais e melhor.