terça-feira, 23 de dezembro de 2014

| Pedro Sá |






Meu querido João,

Escrevo para lhe contar que esta tarde vi um belo avião que ia rumo ao leste. O céu estava tingido pelo inverno. Ao invés do alegre azul habitual pairava no ar uma cor imóvel e faltava, dentre outras riquezas, a presença daquelas pequenas e luminosas nuvens isoladas que parecem ansiar sempre por uma brisa que as disperse.

Desde que nos conhecemos sempre que avisto o voo de um avião, quer esteja sozinho ou acompanhado, penso em você e digo para mim mesmo: Um dia, será o meu amigo que estará cruzando esses céus... E esse sentimento sempre renova em mim o sentido da nossa amizade. É verdade que até hoje convivemos pouco tempo um com o outro, mas, também é verdade que nesse curto período compartilhamos sempre o que havia de atemporal em nós...

 Você conhece a minha ânsia pelas palavras, e, eu a sua ânsia pelo céu... Sei que ainda voaremos cada um em seu par de asas por muitos caminhos, até alcançarmos o que nos prometemos conquistar. É também para isso que precisamos dos amigos, para que nos cobrem o que prometemos a nós mesmos... E por falar em promessas, o livro que lhe prometi, Terra dos Homens de Antoine de Saint-Exupéry, já está a caminho. Não consigo pensar em um livro melhor para você, que tanto ama a aviação e a vida. Espero que o receba logo e que ele possa folhear sua alma, como fez com a minha.

Saiba, meu amigo, que embora estejamos a milhares de quilômetros um do outro, sinto que nossos corações se abraçam nessa tarde de inverno, e seguem juntos tingindo os céus com a cor dos nossos sonhos.