terça-feira, 14 de outubro de 2014

| José António Franco |

30 de setembro de 2014


aquele castelo tinha uma escada que não era de subir
todos os dias a luz nascia dentro das ameias
as cancelas escancaravam-se para os olhares
e para a saudade dos dias por viver

agora que cresci
todos os rios desaguam no meu corpo
são vivas as águas
e liberto eu o sopro da manhã

uma lanterna de espinhos
e transfigurarei o mundo
em árvore de espantos
de inesgotáveis segredos
urdirei papoilas e margaridas tingidas de
colcheias e silêncios breves
em flautas de embalar veleiros e sonhos
que vamos ver chegar

a mão que afaga o feitiço das ondas
sem morada nem consistência
será o centro do marulhar dos fantasmas
a sedução submersa dos labirintos da loucura

um dia logo pela manhã
as pedras contarão todas as flores


                                                                                                      Albufeira, Portugal, Agosto de 2014