segunda-feira, 12 de maio de 2014

| José António Franco |

29 de abril de 2014





era uma vez um senhor que andava sempre bem informado e como era muito invejoso foi à floresta visitar o mocho rapioqueiro e disse-lhe assim ó meu bom mocho diz-me lá tu que sabes tudo se há algum homem mais bem informado que eu e o mocho disse-lhe com um penugento sorriso neste preciso momento há muitos homens mais bem informados do que tu e o homem de mãos dramaticamente crispadas sobre o bolso esquerdo da camisa de seda com a cabeça tragicamente tombada para trás e comos olhos afanosamente rodopiando em busca de algum espião emboscado perguntou criteriosamente amargurado quem são eles ó diz-me quem são eles que eu não suporto tal ousadia ó maisa ó diz-me quem são eles e o mocho de empoleirado sorriso respondeu todos os que compraram antenas parabólicas são mais bem informados do que tu

de rastos ficou o homem que moles demais eram seus ombros para tamanha desventura e de rastos a carregou até à loja mais próxima onde com cheque pagou a mais bela antena parabólica que existia e que logo foi instalada

no dia seguinte dirigiu-se de novo à floresta e de olhos postos no galho do mocho o homem não o viu mas ao lado estava o corvo berimbau e ele perguntou-lhe ó corvo berimbau diz-me lá tu que o mocho neste momento não está nesta história há no mundo homem mais bem informado do que eu e o corvo com a voz rouca da noite respondeu ò filho há uma pessoa mais bem informada do qeu tu e o homem devorado pela ansiedade suplica ó diz-me quem é ó diz-me quem é ó e o corvo responde ó pá é a tua vizinha que tem uma parabólica oferecida por um amigo lá de fora

o homem só parou lá fora mas quando chegou lá não encontrou nenhuma parabólica igual à da sua vizinha mas encontrou o mocho que entretanto tinha regressado à história e que depois de saber o que o outro tinha ido fazer lá fora deu-lhe uma bebida com uma maça envenenada e o outro morreu e como era ele o centro vivo da história a história não continua com ele morto

e agora o respectivo epitáfio

da ignorância ao saber escondido pouco vai que o saber não está numa cabeça só e por isso a cada um aquilo que é seu que a voz do povo já não é de deus