terça-feira, 27 de maio de 2014

| João Manuel Ribeiro |

13 de maio de 2014




[10]
O poeta deita-se com a poesia,
conhece-lhe o cheiro do corpo: os cansaços,
faz-lhe cócegas com metáforas breves,
segreda-lhe rimas perfeitas ou tão só afaga
a pele dos seus versos livres. Enterra-se,
feliz, no âmago da semântica e quer,
estranhamente, que todos, façam dela
mulher, amante, puta - nunca escrava.
Nunca domada. Sempre poesia…


[11]
Contemporâneo do poema,
o poeta.


[12]
O poeta inquieta-se com o sentido singular
que o leitor atribui às metáforas, como se
tivesse mão nas arritmias do poema. Fá-lo
plural, sem género ou cor, inabarcável e o
leitor, teimoso como é, enreda-o a explicações,
exegeses e outras artes de prender o sentido
às palavras desordeiras do poema. É uma luta,
corpo a corpo, forma e conteúdo, pensamento
e emoção. O poema não se rende, sobrevive.
O poeta, aliviado, abrevia o poema. A palavra
é ainda uma epifania de polissemias. O poeta,
um arauto do silêncio da palavra que se deita,
em cada poema, sob a ramada dos versos.