terça-feira, 1 de abril de 2014

| Catarina Gomes |







«De tous les sens, la vue est la plus superficielle, l'oreille le plus fier, sentir le plus voluptueux, le goût le plus superstitieux et inconstant, toucher le plus profond."

Diderot



O sentido do toque é o primeiro que se aprende.

Conhecemos o outro a partir do tato. Puxamos a saia das nossas mães, tocamos na dobra das pernas, aprendemos “joelho”. Tocamos nos seus pescoços, onde as clavículas de encontram, aprendemos “esterno”. Conhecemo-nos depois a nós, aprendemos a saber tocar.

Recordo a sensação de tocar na moleirinha da minha irmã com poucos dias, repleta de cabelos suaves e bem escovados, enquanto a aceitava.

Distinguimos e colecionamos sensações, esperando sempre que sejam superadas pela seguinte.

Lembras-te daquela vez em que te sentaste ao meu lado e te apoiaste na minha perna.

O tato é difícil de superar. Qualquer um não serve. Por vezes tocam-nos tão bem que a recordação nos faz chorar.

Lembro-me dos dedos ásperos da minha avó na testa, quando me penteava e apertava o cabelo.

Ficamos tão necessitados de toque que chegamos a roçar a pele contra o braço de um desconhecido no comboio.

Enrijeceu-me os pêlos dos braços, encheu-me o peito.

A mão do amante endurece com o tempo, mas o seu toque não. Somos contentes, nunca o conseguimos superar. Nenhum o sucedeu.

As mãos ásperas, os olhos coroados de rugas. Conheço-as a todas e amo-as.

O sentido do toque é o último que se perde.