segunda-feira, 17 de março de 2014

| Marcos Cesário |





A 25 km da cidade onde moro, uma pequena cidade está convivendo com imagens confusas de tão sinceras. Há algumas semanas, uma esposa furiosa esperou o marido sair do banheiro jogou-lhe álcool no corpo e ateou fogo. Ele sofreu muito até morrer uns dias depois.

Antes, ele, o incendiado marido, perguntou a um funcionário da Justiça se poderia tirar a queixa de Tentativa de Homicídio que ela teria que responder: “Quero que ela crie nosso filho. Quero que ela seja feliz”, ele esclareceu. A maior parte dos cidadãos da pequena cidade está emocionada com o gesto deste homem. Eu também estou. Uma parte da cidade diz que a esposa,que a mulher, não tem Deus no coração. Uma outra parte diz que ela é louca! Uma outra parte diz que ela é estúpida. Uma outra parte jura que quem ama nunca faria uma coisa dessas.

Eu que amei tanto... que desejei tanto, que sofri tanto, que fiz sofrer, que desejei tanta coisa bonita por amor, que odiei tanto, que chorei, e tanto fiz chorar, que gritei tanto por ciúmes, por amor... Até agora só lamentei por ele, por ela, pelo filho de apenas quatro anos e pelas famílias deste casal.

Uma jovem poeta de apenas 23 anos, Iris de Guimarães, sussurrou em um de seus belos e afiados versos: “Te amo com todo o meu ódio...” Entendi, Iris. É por isso que tenho medo de confessar quantas vezes me incendiei. Quantas vezes me incendiei e carbonizei por tanto amor a razão dentro de mim. Vou parar por aqui. De repente me deu um medo. Me deu um medo de ser compreendido.Talvez seja melhor,talvez seja mais fácil eu não me dizer mais nada.